Por Mik
Quando em 2010 resolvemos
sair do Brasil, e seguir a vida como expatriados, uma pessoa - sabendo que
nossa primeira morada seria na Índia - me perguntou…
Seu casamento é
sólido?
Porque senão for a Índia
vai te engolir, e você - vai - se separar.
Bem, após 3,5 anos de
exterior, sendo 2,5 anos em Mumbai…
Completamos agora, em
fevereiro, um ano em Berna.
E quem disse que seria
fácil?
Não foi, e por vezes não o
é... Mas viver um dia de cada vez tem nos ajudado a entender que nem tudo o que
desejamos é o que deve ser feito. E que tudo tem sua hora para acontecer.
Assim como disse Chico
Xavier:
"É exatamente disso
que a vida é feita, de momentos.
Momentos que temos que
passar, sendo bons ou ruins, para o nosso próprio aprendizado.
Nunca esquecendo do mais importante:
Nada nessa vida é por acaso. Absolutamente nada. Por isso, temos que nos
preocupar em fazer a nossa parte, da melhor forma possível.
A vida nem sempre segue a
nossa vontade, mas ela é perfeita naquilo que tem que ser."
E é pensando nisso, pensando
que a vida é cheia de aprendizados, pensando que nada é por acaso, e que
aprendizado bom é aquele que se compartilha… que venho, hoje,
compartilhar uma história que vivi nessa semana.
Tudo começou no último dia
25.02.2014, quando eu e uma amiga fomos vítimas de preconceito. Fomos
vítimas de injúria, aqui na Suíça.
Fomos numa academia para
conhecer e começar a malhar.
Lá, ao chegar, perguntei
se o recepcionista, também Personal Trainer, poderia falar comigo em
inglês.
Ele disse que não, só em
alemão.
Então, minha amiga, que
sabe falar (muito bem) alemão, começou a conversar com ele.
Enquanto ela falava que
gostaríamos de conhecer a academia, me dei conta que se um dia eu fosse sozinha
não teria como me comunicar, então pedi que ela perguntasse se alguém na
academia falava inglês.
Após ela perguntar ele
disse que - até - poderia encontrar alguém que falasse inglês, mas que inglês
não é a língua da Suíça.
"Inglês fala-se nos
Estados Unidos! Aqui falamos suíço-alemão!! Você fala inglês no seu país?!?!
Não. Você não fala inglês no seu país! Então por que me pergunta se posso falar
inglês na Suíça?!?!?!?!"
Ps.:
1. Desconsideremos que o
inglês é a língua mais falada no mundo.
2. Desconsideremos que
estamos num país desenvolvido.
3. Desconsideremos que
além do alemão, ensina-se francês e/ou inglês nas escolas (a depender do
grau/série/nível/ cantão, etc...)
4. Desconsideremos que a
minha amiga estava falando em alemão com o atendente.
5. Desconsideremos que a
Suíça possui 4 línguas oficiais. O alemão, o francês, o italiano e o romanche.
6. Desconsideremos que
sempre me comuniquei em inglês aqui.
7. Desconsideremos que no
meio da discussão ainda perguntei se o atendente falava francês
Um adendo antes de
continuar essa história…
No último dia 09.02 foi
votada uma lei
que aprova a restrição de imigrantes na Suíça. Principalmente imigrantes
europeus.
Retomando...
Minha amiga então
perguntou se ele falava alemão, afinal a língua oficial de Berna é o alemão e
não o (dialeto!!!) suíço-alemão.
(Além do alemão ser A
língua que eles estudam na escola, fora o francês e o inglês. Repito.)
O atendente disse que sim,
que eles aprendem o alemão (hochdeutsch) na escola, mas que a língua (???)
deles é o suíço-alemão (!!!), então se nós quiséssemos falar com ele teria que
ser em suíço-alemão!
Depois de alguns minutos
de discussão, revolvemos ir embora. Era inútil continuarmos ali.
Ao virarmos as costas
ouvimos...
"Essas
brasileiras…"
Então minha amiga virou-se
e disse: "Eu estou te ouvindo, e você está sendo muito mal educado!"
Ele olhou e respondeu...
"Merci!"
(Obrigado.)
Fomos embora.
Nota: Em momento algum xingamos
ou gritamos com o atendente.
Chegamos, sim, felizes e
sorridentes e fomos metralhadas com grosserias.
Estava claro que não
éramos bem-vindas naquele espaço.
E sim, ele entendeu que
falávamos, entre nós, em português do Brasil. Pois em momento alguns nos
apresentamos como brasileiras e saimos de lá com a frase… "Essas
brasileiras…"
Como não sei lidar com
injustiça, e não estou morando na Suíça de favor, nem muito menos roubando
emprego dos nativos…
Acredito que - até - posso
não conseguir impedir novos ataques como esse, mas farei a minha parte e
denunciarei o caso.
Não sou ingênua de achar
que resolverei o problema da xenofobia em Berna, ainda mais diante da atual
conjuntura, mas acredito que não será em silêncio que poderei ajudar a evitar
com que outras pessoas tornem-se vítimas em potencial.
E farei isso porque não
suporto injustiça!