quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Porque nem tudo são flores

Por Mik

Quando em 2010 resolvemos sair do Brasil, e seguir a vida como expatriados, uma pessoa - sabendo que nossa primeira morada seria na Índia - me perguntou…

Seu casamento é sólido? 
Porque senão for a Índia vai te engolir, e você - vai - se separar.

Bem, após 3,5 anos de exterior, sendo 2,5 anos em Mumbai…

Completamos agora, em fevereiro, um ano em Berna.

E quem disse que seria fácil? 
Não foi, e por vezes não o é... Mas viver um dia de cada vez tem nos ajudado a entender que nem tudo o que desejamos é o que deve ser feito. E que tudo tem sua hora para acontecer.

Assim como disse Chico Xavier:

"É exatamente disso que a vida é feita, de momentos.
Momentos que temos que passar, sendo bons ou ruins, para o nosso próprio aprendizado.
Nunca esquecendo do mais importante: Nada nessa vida é por acaso. Absolutamente nada. Por isso, temos que nos preocupar em fazer a nossa parte, da melhor forma possível.
A vida nem sempre segue a nossa vontade, mas ela é perfeita naquilo que tem que ser."

E é pensando nisso, pensando que a vida é cheia de aprendizados, pensando que nada é por acaso, e que aprendizado bom é aquele que se compartilha… que venho, hoje, compartilhar uma história que vivi nessa semana.

Tudo começou no último dia 25.02.2014, quando eu e uma amiga fomos vítimas de preconceito. Fomos vítimas de injúria, aqui na Suíça. 

Fomos numa academia para conhecer e começar a malhar.
Lá, ao chegar, perguntei se o recepcionista, também Personal Trainer, poderia falar comigo em inglês. 
Ele disse que não, só em alemão.

Então, minha amiga, que sabe falar (muito bem) alemão, começou a conversar com ele. 

Enquanto ela falava que gostaríamos de conhecer a academia, me dei conta que se um dia eu fosse sozinha não teria como me comunicar, então pedi que ela perguntasse se alguém na academia falava inglês.
Após ela perguntar ele disse que - até - poderia encontrar alguém que falasse inglês, mas que inglês não é a língua da Suíça. 

"Inglês fala-se nos Estados Unidos! Aqui falamos suíço-alemão!! Você fala inglês no seu país?!?! Não. Você não fala inglês no seu país! Então por que me pergunta se posso falar inglês na Suíça?!?!?!?!"

Ps.: 

1. Desconsideremos que o inglês é a língua mais falada no mundo. 

2. Desconsideremos que estamos num país desenvolvido.

3. Desconsideremos que além do alemão, ensina-se francês e/ou inglês nas escolas (a depender do grau/série/nível/ cantão, etc...)

4. Desconsideremos que a minha amiga estava falando em alemão com o atendente.

5. Desconsideremos que a Suíça possui 4 línguas oficiais. O alemão, o francês, o italiano e o romanche.

6. Desconsideremos que sempre me comuniquei em inglês aqui.

7. Desconsideremos que no meio da discussão ainda perguntei se o atendente falava francês


Um adendo antes de continuar essa história…

No último dia 09.02 foi votada uma lei que aprova a restrição de imigrantes na Suíça. Principalmente imigrantes europeus.


Retomando...

Minha amiga então perguntou se ele falava alemão, afinal a língua oficial de Berna é o alemão e não o (dialeto!!!) suíço-alemão. 
(Além do alemão ser A língua que eles estudam na escola, fora o francês e o inglês. Repito.)

O atendente disse que sim, que eles aprendem o alemão (hochdeutsch) na escola, mas que a língua (???) deles é o suíço-alemão (!!!), então se nós quiséssemos falar com ele teria que ser em suíço-alemão!

Depois de alguns minutos de discussão, revolvemos ir embora. Era inútil continuarmos ali.

Ao virarmos as costas ouvimos...
"Essas brasileiras…"

Então minha amiga virou-se e disse: "Eu estou te ouvindo, e você está sendo muito mal educado!"

Ele olhou e respondeu...
"Merci!" (Obrigado.)

Fomos embora.

Nota: Em momento algum xingamos ou gritamos com o atendente.
Chegamos, sim, felizes e sorridentes e fomos metralhadas com grosserias.
Estava claro que não éramos bem-vindas naquele espaço.
E sim, ele entendeu que falávamos, entre nós, em português do Brasil. Pois em momento alguns nos apresentamos como brasileiras e saimos de lá com a frase… "Essas brasileiras…"

Como não sei lidar com injustiça, e não estou morando na Suíça de favor, nem muito menos roubando emprego dos nativos…

Acredito que - até - posso não conseguir impedir novos ataques como esse, mas farei a minha parte e denunciarei o caso.
Não sou ingênua de achar que resolverei o problema da xenofobia em Berna, ainda mais diante da atual conjuntura, mas acredito que não será em silêncio que poderei ajudar a evitar com que outras pessoas tornem-se vítimas em potencial.
E farei isso porque não suporto injustiça!





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