sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Se chorei ou se sofri, o importante é que EMO(N)ÇÕES eu vivi

Por Johnson

Namaskar, rapaziada.

Pois é. Hoje, quando deu umas oito horas, recebi a incumbência de ir ao mercado, Sankhari Bandar, que fica aqui perto do hotel (5 minutos), buscar poucas coisas, pá e bola. Parece aquelas "SAB" que haviam em Brasília nas décadas de 70 e 80 (cresci perto de uma na 413 sul), poucas opções, mal ajambrado, meio sujo, mas serve pra víveres básicos. Muita coisa aqui, aliás, lembra Brasília à década de 70; os carros velhos, as golas das onipresentes camisas que o povão usa, entre outros.

Pois bem, banho tomado, rúpias no bolso, simbora.

No trajeto, uma igreja católica, prédios de bom nível, entre os quais, como em toda a cidade, surgem, em terrenos baldios ou ocupados, slums (favelas). Ocupações de espaço por pessoas de baixa renda, nas quais não há gueto no sentido de violência ostensiva, como no Brasil, mas, sim, no de sectarização social.

Uma dessas favelitas invadidas fica a 50 metros do Sankhari Bandar.

Já familiarizado com o mercado, entro, e vou catando os itens de interesse; quando, no entanto, iria passar a uma seção onde ficam os materiais de limpeza, enlatados e frios, um funcionário me olha pra bermuda (só forasteiro usa) e dispara: "Close, sir". Apesar da falta de tempo verbal passado na afirmação, compreendo, e me dirijo ao caixa para pagar o que consegui pegar.

Feito isso, saio e considero a possibilidade de esticar até uma venda mais adiante e completar a mini-feira; percebo, porém uma inquietação sutil na rua - como se as pessoas andassem um pouco mais rápido, ou tivessem pressa.

Encosto em um quiosque contíguo pra comprar um maço de Lucky Strike indiano (R$ 4,10) e de repente - desaba! Uma chuva que cai de uma hora pra outra, tipo da coisa que não se vê em Brasília. Desabou de uma só vez, não se pôde ver chegando, enfim.

Tive medo de que as ruas alagassem de modo que tudo que estivesse "pelo chão" da slum (não há banheiros) descesse junto. Garrei com o saco de compras e saí andando na tormenta, "nas tora", como dizemos os brasilienses.

Molhar-se não era drama, pegar uma torrente imunda na rua, sim. Passei pela favelita e o cheiro - sempre ruim - que dela vinha, estava um pouco pior; a água não descia alta, ainda, passei; me permitindo até mesmo sentir uma alegria por estar tomando banho de chuva na monção! Romantizando! Isso, água dos céus, limpa, leva embora! Quando ia fixar em Iansã, rainha das tormentas, percebo, à exceção de um adolescente, estar só na rua, em Colaba. Surreal! Onde foram parar todos? Espero uma transversal clarear para atravessar rumo ao hotel, eu o garoto trocamos olhares cúmplices, passando a mão nas faces e cabelos, encharcados, estilo "é, brother, estamos ensopados...".

De dentro das casas escorria água, eu inevitavelmente molhava os pés e as sandálias de couro na corrente e procurava não pensar no que poderia estar descendo junto, dissociar um cheiro de urina que as vezes batia forte.

Chego ao portão do hotel com a camisa de algodão cru de João Pessoa 100% molhada. Os guardas que conferem os carros na entrada por bombas riem com os olhos do "sir" gringo ensopado. Retribuo com um sorriso completo, real.

Chegamos aqui no fim das monções, três meses de chuva que abastecem reservatórios, amenizam a temperatura, salvam o ano dos pequenos, médios e grandes agricultores, lavam um tanto das ruas sujas. Causam também inundações urbanas, colapso de construções de fundação duvidosa, caos no tráfego metropolitano.


Deu pra tomar banho de chuva. "Muhut bar
ish he" (não deve se escrever assim, a transliteração para caracteres romanos, mas foi a primeira expressão em hindi que aprendi, dito assim todos eles entendem), ou - "chove bem forte".

4 comentários:

  1. Oi, gentes. Adorei ver as notícias. Coisa difícil é cultura diferente da nossa, né? Mas vocês vão tirar de letra.
    Abrações!

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  2. Fiquei me perguntando aqui... será que o rapaz de dentro da venda que te anunciou "Close, Sir!" sabia do pé d'água (e perna e coxa e bunda d'água)? Será que depois de um dado tempo pras bandas daí passa-se a perceber um certo cheiro de precipitação no ar, um certo vento que "arrupia" os cabelos da nuca (de quem os tem, claro!), uma dada mudança na luz, ou na cor do dia, ou, ainda, regula-se a intuição nesse sentido? Ou será que os antenadíssimos e cibernéticos indianos já sabiam por um twitter de "wédah foricAst" qualquer que a tal pancada dos céus estava a caminho e, apesar de estar informado, o cara limitou-se a dizer "Close, Sir!"?
    Quanto ao sumiço das pessoas nas ruas... bem, a idéia de bosta e mijo na altura das canelas explica muito! Sebo nas canelas!!! Hehehehehehe! Adorei a história!!! E as imagens escolhidas, bem, elas também falam por si!
    Hugzzz!!!

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  3. @Zé; Oi! Durezinha, cara. Concordo com a 'letra' também, se tudo correr bem em casuá e no trabucador, a Índia se encaixa!

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  4. @Ramon; certamente eles manjam. O lance é que a gente tá encrustado numa meiuca da South Mumbai na qual há muito prédio...ela vem veloz, do mar muitas vezes, e quando tu vê, já foi. A indianada se protege, entra pros lugares e espera passar o grosso. O lance é que, ao contrário do verão daí e da chuva amazônica, a monção as vezes cai por 3+ dias...essa semana teve uma dessa.

    You wouldn't be-lieve the accent here, mate. Something else. Today we've been to this comedy club and listening to performer's British demi-cockney ravings was a relief. I miss "English" English, Australian, American, anything with a slight phonologic resemblance to the language we'd known.

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