quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Kya main apki madad kar sakti hoo?

Por Mik

Quase ninguém sabe, mas no último domingo consegui tirar um pedaço da ponta do meu dedo. 
Estava eu, lavando um copo, linda e loira, quando o mesmo quebrou na minha mão. Também não sei como consegui tal proeza. Fato é que minha pressão baixou e quase desmaiei. Era muito sangue que saia do meu dedinho...
Bem, fiz o curativo, descansei por 30 minutos e já estava tudo bem.

Mas o motivo do meu post não é contar o drama do meu dedo, mas sim, falar sobre mim, e contar sobre uma senhorinha que trabalha na academia que eu malho.

Já falei em outros posts que aqui na Índia, com tantas pessoas por metro quadrado, existe todo tipo de "profissão". Tem gente para tirar o lixo, gente para varrer o chão, gente para passar pano no chão, gente para calçar seus sapatos, gente, gente, gente... Tá certo que em alguns lugares quem varre o chão, também passa pano, mas não necessariamente pode calçar os seus sapatos.

Na minha academia tem uma senhorinha muito gentil, que só fala Hindi... talvez fale Marathi, também. Ela trabalha lá, no vestiário feminino.
Todo dia que vou malhar, primeiro subo para ir ao vestiário, colocar minhas meias, meu tênis e guardar minha bolsa no armário. 
Essa senhorinha sempre fala comigo, conversa horrores, mesmo eu já tendo dito que não entendo o que ela diz... parei de repetir que não entendia depois do meu 6 mês de academia...

Segunda-feira, quando fui malhar, ela viu o curativo no meu dedo e falou algo em Hindi que eu não entendi. Como eu estava descendo as escadas enquanto ela varria o chão, balancei minha cabeça ao modo indiano de ser, dizendo... "está tudo bem."
Já na terça-feira, enquanto eu, com certa dificuldade, tentava colocar minhas meias, ela me perguntou...
"Kya main apki madad kar sakti hoo?" Eu mesma não entendi nada. Então ela repetiu...
"Kya main apki madad kar sakti hoo?" e nesse momento apontou para meu pé.

Pensei... "Ela deve estar me perguntando se pode me ajudar..."
Bem, mesmo ela sendo uma querida, não aceitei...

Quando, em 1 segundo, decidi não aceitar a ajuda dela, não foi porque eu não precisasse, mas sim porque tenho tentado a aprender a lidar com A disponibilidade indiana... Muitas vezes não aceitando ajuda.

Explico com uma pequena história...
Cena: Eu com 4 sacolas de compras na mão. Dois senhores, em pé, conversando no hall de entrada, esperando o elevador chegar. Uma pequena sacola encostada na parede ao lado da porta do elevador, e um rapaz, possivelmente o motorista de um dos senhores.
O rapaz estava a espera do elevador, para só e somente só, pegar a sacola do chão e colocar dentro do elevador. Temos ai um choque cultural? Não sei... só sei que o senhor que segurava uma pasta em uma das mãos, poderia muito bem pegar a pequena sacola do chão e colocar dentro do elevador.

Confesso que a "disponibilidade" dos indianos as vezes me constrange, me inibe, me encabula mesmo.

Pensando nessa e nas "muitas" histórias que vi e vivi aqui na Índia.... Já não sei mais quando oferecem ajuda... por gentileza, porque é função desse ou daquele sujeito, ou porque esperam ganhar algum dinheiro. 
Na dúvida acabo não aceitando. Mas o maior motivo de não aceitar, e as vezes chegar a lutar contra, é que não quero me mal acostumar. Um dia deixarei a Índia e espero levar daqui o que de melhor ela tem me dado... a possibilidade de repensar minhas atitudes, meus valores e agradecer pela educação que meus pais e meus padrinhos me deram. 

Temos ai (?) um possível contraste entre o "meu mundo", e esse mundo tão diferente que tenho encontrado a cada dia.... mais parecido com Deus Caos, também conhecido como Índia.

Então fica a pergunta... em meio a tanta beleza, sujeira, misticismo e malandragem...  Kya main apki madad kar sakti hoo?



Ps.: Não sei se a senhorinha me ofereceu ajuda ou perguntou se poderia colocar minhas meias... mas perguntei para um querido amigo indiano como eu poderia dizer "Eu posso te ajudar?" em Hindi, e ele me disse que seria.... Kya main apki madad kar sakti hoo?





5 comentários:

  1. Nega, sei que tem sido sofrido, mas é muito bonito ver como vocês tem conseguido lidar um pouco melhor com tudo. Já releu os primeiros posts de vocês? Cuidem-se! Bjs.

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  2. Sim, o dedo está bem melhor. Já voltei as funções domésticas... rsrs
    Estamos nos descobrindo nessa Índia! rs
    Bjoo

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  3. Que lindo esse post, Mik, que linda sua reflexão.

    Eu tou num movimento contrário: o de aprender a aceitar que outras pessoas façam algo por mim, sem ficar me sentindo constrangida. É importante sabermos aceitar as gentilezas, para que elas existam no mundo!
    Claro que o contexto é outro, mas é o que venho passado.

    Beijocas

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    1. Mila, é um grande aprendizado!! Também preciso aprender a aceitar a ajuda do outro, mas aqui, ainda não consigo entender a ajuda como algo natural. A ajuda como... Te ajudo porque gosto de você. Te ajudo porque um dia você me ajudou. Te ajudo porque gosto de ajudar...
      Aqui a ajuda vem num contexto... Te ajudo, mas quando é que você vai me ajudar mesmo? Te ajudo, mas quanto é que você vai me dar mesmo?
      Misturado a isso, temo ficar dependente. Porque na Índia, tudo é muito intenso. Tudo é muito ou nada. Meio termo não existe aqui. Não na Índia que eu conheço. E esse meio termo, seria o equilíbrio para conseguirmos ajudar e sermos ajudados pela simples ação, sem esperar por uma reação, nem mesmo imediata.

      É, várias reflexões... ainda em análise. rsrs

      Ps.: Pode comentar em todos os post!! Estou amando!!

      Bjo com carinho

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