terça-feira, 28 de setembro de 2010

Índia, mística?!

Por Mik

Alguns causos...

Sexta fomos ao dermatologista. Estamos fazendo um tratamento no rosto. Havíamos combinado com o médico que cada sessão sairia para o Johnson- 1000 rupias (R$38) e para mim - 1500 rupias (R$57). Ao final da consulta a recepcionista cobrou 4000 rupias (R$152) do Johnson e 4500 (R$171) rupias de mim. Só me dei conta disso depois que sai do consultório. Isso me deixou um tanto incomodada. Me senti enganada.   

Comentei sobre o assunto com uma indiana que conhecemos aqui. Ela me disse: "Vocês são brancos! Os indianos SEMPRE vão cobrar a mais de vocês." Falei que o meu incomodo foi porque o médico havia falado um valor e na hora do pagamento foi outro. Não me incomodei por pagar 4500 rupias, visto que nem me dei conta do valor na hora do pagamento. Fui me dar conta depois, quando cheguei em casa. Quando olhei para o papel, no qual o médico escreveu o valor, e vi que ele nos cobrou muito além do combinado. Ai sim, fiquei PDV.

Enfim... 
1º aprendizado do final de semana: Quem mandou ser Branca, não saber Hindi, não falar Marathi? Agora paga mais!!
Começamos a acreditar...
3ª orientação: "Cuidado" com os indianos, eles mentem! Sempre vão mentir. Taxista, comerciante... Eles precisam de dinheiro, e você estrangeiro, tem o que eles precisam. O roubo aqui não vai no susto, ou no (sobre)assalto, mas na cara dura mesmo. Se vale 100, eles cobram 200. 

Detalhe que ser negro também não é uma vantagem por aqui.
Eles discriminam indianos que não tenham a pele clara.
Nos comerciais vemos VÁRIAS propagandas de cremes para clarear a pele.
A mais famosa é Pond's White Beauty. 
(Vejam como eles tratam o assunto, no final desse video)






Tenho descoberto que a Índia mística está para além do "país" Maharashtra. Está fora de Mumbai. A própria indiana, (a qual ainda manterei sua identidade em sigilo, rsrs, por enquanto) com quem tenho começado a conviver, já me disse várias vezes: "Mumbai não é Índia!"   

Aqui existe muito preconceito. Não entre religiões, mas entre castas, entre cores de pele. 

Ontem fui ao shopping com minha mais nova amiga indiana. Passamos numa loja da M.A.C. (Iva, lembrei muito de você. Todas aquelas cores de sombra e batons... sem falar nos pincéis que nem sei direito como usar... rsrs  AMEI!! Comprei um rimel e um batom.)

Detalhe: minha amiga tem a pele escura. Não chega a ser negra, mas marrom. Ela já havia me contado que tinha passado por várias situações de discriminação. 

Pois bem...
Estávamos na loja, quando ela pegou num pacote - aberto - de lenços para retirar maquiagem. Uma das funcionárias da loja puxou o pacote da mão dela, olhou para ela, colocou o pacote encima do balcão e disse com raiva: Por favor, deixe aqui! 
Nossa! Aqui me deixou perplexa. Fiquei PDV outra vez! 
Só porque ela pediu "Por favor!!" tem o  direito de fazer tal grosseria?!?! 
Claro que não!!!
Peguei o pacote e disse que queria ver ela fazer a mesma coisa comigo.  
Ai ela ia ver um brasileira, falar inglês, marathi, hindi e se duvidar até desenhar sânscrito ia rolar.
Não deu 5 minutos a funcionária veio pedir desculpas para minha amiga. Mas pense num pedido sem a menor consideração?!?! 
Foi constrangedor! 
Coisas como estas me fazem pensar... Índia, mística?!?! Só se for para fora dos muros de Maharashtra. 

Detalhe: a funcionária era da mesma cor que a minha amiga! 

Ontem comprei um livro: Hinduism - An Introducion. 
Decidi estudar sobre as religiões daqui. 
Começarei estudando sobre o Hinduísmo, 2ª maior religião em Mumbai, depois do Islamismo. 
Aqui tem muitos mulçumanos. 
O hospital que frequentamos é mulçumano. 
Lá eles têm um programa muito legal. 
Eles atendem, sem custos, parte da população que precisa de tratamento e não tem como pagar por um. 
Uma linda iniciativa encabeçada pelos donos e médicos do hospital que cedem parte dos seus horários para o atendimento social. 
Nunca vi nada parecido no Brasil que funcionasse e que não tivesse corrupção no meio. 

Curiosidade: Soubemos que o governo indiano estava querendo proibir as mulheres mulçumanas de andarem de burca no hospital. A resposta dos mulçumanos foi: Uma vez proibido, explodiremos o hospital!
Parece que o governo voltou atrás. Sempre vejo mulheres só com os olhos de fora. Todas, em sua maioria, vistas de preto. 

Vai vendo!!!




Sahifee Hospital
Tenho tentado entender mais sobre os mulçumanos, mas confesso que estar entre eles (no hospital) é muito estranho. Procuro ir sempre muito vestida. Não chego a usar burca, porque ninguém merece e não sou obrigada a... mas sou um ET entre eles/elas.   

Ainda tenho muito que aprender por aqui.
Agora, posso dizer que sinto muito sofrimento vindo dessas mulheres, mas ao mesmo tempo uma resiliência enorme. 
Costumes e energias ainda confusas para mim...
Tenho me esforçado.


That's all folks!!!

Logo, logo, mais notícias da rede de jornais, nada períodica, mas que jamais esquece do seu leitor! 





5 comentários:

  1. Sacanagem...
    Embora não justifique, porque roubo é roubo e acumular bens materiais é oposto à qualquer filosofia espiritualizada de que eu tenha ouvido falar, entendo que eles tenham essas posturas em função de anos e mais anos de exploração pelos "brancos" e pelos "negros" também... povo sofrido, valores deturpados... Quando nunca se foi respeitado, não se aprende a respeitar.
    Que pena...
    Fiquem ligados, meus amigos... a malandragem é uma em cada lugar e a gente não é malandro nem aqui, imagina ai!
    Beijo grande e boa sorte sempre!

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  2. Tia,
    o problema não foi o troco. Até mesmo porque de 2500 para 8500 nota-se muito bem a diferença, e nos foi dado recibo.
    Vimos o valor no ato.
    Rafael disse ter percebido a diferença nos valores, mas não quis se aborrecer e acabou comentando comigo só quando chegamos em casa.
    Eu pensei que estávamos pagando a consulta médica, também, mas não.
    Por outro motivo tentamos falar com o médico, que na hora estava ocupado e não pode nos atender.
    Possivelmente voltaremos lá nesta sexta. Assim falaremos com o médico a respeito do ocorrido.
    Quanto a distância... essa é grande. Levamos mais ou menos 1 hora para chegar ao local e mais outra para voltar para hotel.
    Aqui qualquer lugar que não se possa ir a pé, é longe.
    Não existe perto.
    O que existe é menos longe.
    ;)
    Bjoo

    Bjoo
    Mik

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  3. Ahhhh, minhas rúpias...

    Estrangeiro na Índia deveria ser uma classe organizada, com listinha de serviços "recomendo" e serviços "não recomendo" divulgados semanalmente numa rádio clandestina, num blog, ou seja lá onde for! Cadê a união dos firangs?! Não é porque a inglesada fez merda por conta e se lambusou, até a 25ª geração, que o oba oba tá justificado, ora essa! Até porque nós brasileiros já tivemos a nossa própria cota de "civilizados" gananciosos a bom chupar direto da jugular! Materialismo à parte, "dê-me cá de volta minhas rúpias, safado, que dinheiro pra mim também não cai do céu; é suado!"

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  4. Eita! Postei meu comentário e só depois percebi que havia lido apenas 1/3 do teu relato. Que coisa esse lance da cor da pele, das feições, hein! Tudo tão diferente e, ao mesmo tempo, tudo tão igual. Tudo tão igual e, ao mesmo tempo, tudo tão diferente! Isso para o homem daqui, para o homem daí, para o homem de hoje, para o homem de ontem. E, com essa mesmice de paradoxo, a gente vive é na esperança de que o homem de amanhã consiga, enfim, inovar, mudar, ser outra coisa menos desinteressante...

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  5. Mik querida!
    Tava com saudades das "conversas"....muito legal te "ler/escutar"....traz vcs pra pertinho do coração! Olha, preconceito acho q está INSCRITO no ser humano. Nao tem jeito....ótima ideia começar a ler e estudar..nossa, vc vai ficar (e já está ficando +) sábia! bom final de semana, tudo de bom, bjs, T.Carmen

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